1.
(Uerj 2013) A irisina, um hormônio
recentemente descoberto, é produzida por células musculares durante a atividade
física. Ela atua sobre as mitocôndrias de certos tipos de células adiposas,
acelerando a oxidação dos lipídios e liberando energia sob a forma de calor.
Identifique a alteração provocada pela ação
da irisina sobre o metabolismo energético das mitocôndrias dessas células
adiposas.
Nomeie um outro hormônio
conhecido cuja atuação seja semelhante à da irisina nas células do organismo.
Resposta:
Desacoplamento da
fosforilação oxidativa.
Hormônios tireoidianos.
Considere um experimento em que a
actinomicina D foi adicionada a uma cultura de células eucariotas, medindo-se,
em função do tempo de cultivo, a concentração de três diferentes proteínas, A,
B e C, no citosol dessas células. Em experimento similar, esse antibiótico foi
substituído pela puromicina, sendo medidas as concentrações das mesmas
proteínas.
A tabela abaixo mostra os resultados dos
dois experimentos.
Considere que a meia-vida de uma molécula na
célula é igual ao tempo necessário para que a concentração dessa molécula se
reduza à metade.
Estabeleça a ordem decrescente dos tempos de
meia-vida dos RNA mensageiros das proteínas A, B e C.
Compare, também, o tempo de
meia-vida dessas proteínas e estabeleça a relação entre esses tempos.
Resposta:
C – B – A.
As meias-vidas são iguais.
4.
(Uerj 2013) Segundo a perspectiva de
alguns cientistas, as mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global
podem estar provocando mudanças nos processos adaptativos de seres vivos.
Justifique essa perspectiva com base nas seguintes
propostas:
— teoria evolutiva de Lamarck;
— neodarwinismo.
Resposta:
Lamarck — Os seres vivos
estariam se adaptando segundo a lei do uso e desuso, segundo a qual o que não é
usado desaparece e o que é usado se desenvolve e é transmitido às gerações
futuras.
Neodarwinismo — Mutações ao
acaso ocorridas nos genes dos seres vivos, permitindo melhor adaptação às
mudanças ambientais, seriam naturalmente selecionadas e transmitidas aos
descendentes.
5.
(Uerj 2013) A toxina produzida pela
bactéria anaeróbica Clostridium botulinum pode produzir a doença
denominada botulismo, por impedir a liberação do mediador químico acetilcolina
nas sinapses nervosas colinérgicas. Sob o nome comercial de Botox, é usada para
minimizar, temporariamente, a formação de rugas faciais.
Explique por que o uso de pequenas doses
injetáveis dessa toxina propicia essa minimização de rugas.
Explique, ainda, por que latas estufadas
podem indicar a contaminação do alimento nelas contido por Clostridium
botulinum.
Resposta:
A ausência de acetilcolina
bloqueia, temporariamente, a transmissão neuromuscular do impulso nervoso nos
músculos da face, relaxando-os.
Nas condições de baixa
concentração de oxigênio encontradas no interior das latas, a bactéria produz
CO2 por fermentação.
6.
(Uerj 2012) Recentemente, no Rio de
Janeiro, recrutas da Marinha foram contaminados por vírus influenza tipo B.
Esse vírus se replica de modo idêntico ao do vírus influenza tipo A, causador
da pandemia de gripe suína no ano de 2009.
Cite o tipo de ácido nucleico existente no
vírus influenza tipo B e explicite seu mecanismo de replicação.
Resposta:
RNA formado por hélice simples.
O RNA viral é transcrito em
seu RNA complementar, utilizado pela célula como RNA mensageiro.
7.
(Uerj 2012) O monóxido de carbono é um
gás que, ao se ligar à enzima citocromo C oxidase, inibe a etapa final da
cadeia mitocondrial de transporte de elétrons.
Considere uma preparação de células
musculares à qual se adicionou monóxido de carbono. Para medir a capacidade de
oxidação mitocondrial, avaliou-se, antes e depois da adição do gás, o consumo
de ácido cítrico pelo ciclo de Krebs.
Indique o que ocorre com o consumo de ácido
cítrico pelo ciclo de Krebs nas mitocôndrias dessas células após a adição do
monóxido de carbono. Justifique sua resposta.
Resposta:
O consumo diminui.
Ao cessar o transporte de elétrons pela
cadeia respiratória mitocondrial, a acumulação das coenzimas de oxirredução na
forma reduzida inibe a atividade das enzimas desidrogenases.
8.
(Uerj 2011) O Brasil é o segundo país
do mundo em número de casos de hanseníase, perdendo apenas para a Índia. Cite o
nome científico do agente patogênico responsável pela hanseníase, indicando se
é um vírus ou uma bactéria. Em seguida, identifique seu mecanismo de
transmissão e apresente o nome da vacina que pode induzir alguma proteção
contra essa doença.
Resposta:
Mycobacterium leprae; bactéria.
Contato com secreções das
vias aéreas de doentes não tratados. Vacina BCG.
A vacina BCG (Bacilo Calmette
– Guérin) protege contra bactérias do gênero Mycobacterium, como o bacilo causador da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis)
9.
(Uerj 2011) A amônia é produzida pelos
organismos vivos, especialmente durante o catabolismo dos aminoácidos. Por ser
muito tóxica, alguns vertebrados a incorporam, antes da excreção, como ácido
úrico ou como ureia.
Cite um vertebrado que excreta diretamente
amônia e identifique o principal órgão excretor dessa substância. Aponte,
também, uma vantagem de adaptação ambiental relativa às aves e outra relativa
aos répteis, por excretarem ácido úrico, substância pouco solúvel em água.
Resposta:
A
amônia é um composto nitrogenado muito solúvel e muito tóxico. Por esse motivo
ela deve ser eliminada assim que for produzida. Animais que excretam
diretamente a amônia vivem normalmente na água. Assim podem-se citar os peixes
teleósteos e os girinos de anfíbios, os quais excretam amônia
principalmente pelas brânquias. Em aves, a ausência de bexiga urinária e a
excreção de ácido úrico com as fezes diminui o peso específico do animal e
facilita o voo. Em répteis, a excreção fecal de ácido úrico resulta em
economia de água e adapta melhor esses animais às regiões áridas.
TEXTO PARA AS
PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
TEXTO I
1Durante mais de trinta
anos, o bondezinho das dez e quinze, que descia do Silvestre, parava como burro
ensinado em frente à casinha de José Maria, e ali encontrava, almoçado e
pontual, o velho funcionário.
Um dia, porém, José Maria
faltou. O motorneiro batia a sirene. Os passageiros se impacientavam. Floripes
correu aflita a avisar o patrão. Achou-o de pijama, estirado na poltrona,
querendo rir.
– Seu José Maria, o senhor
hoje perdeu a hora! Há muito tempo o motorneiro está a dar sinal.
– Diga-lhe que não preciso
mais.
A velha portuguesa não
compreendeu.
– Vá, diga que não vou...
Que de hoje em diante não irei mais.
A criada chegou à janela,
gritou o recado. E o bondezinho desceu sem o seu mais antigo passageiro.
Floripes voltou ao patrão.
Interroga-o com o olhar.
– Não sabes que estou
aposentado?
(...)
Interrompera da noite para
o dia o hábito de esperar o bondezinho, comprar o jornal da manhã, bebericar o
café na Avenida, e instalar-se à mesa do Ministério, sisudo e calado, até às
dezessete horas.
Que fazer agora?
Não mais informar
processos, não mais preocupar-se com o nome e a cara do futuro Ministro.
Pela primeira vez fartava a
vista no cenário de águas e montanhas que a bruma fundia.
(...)
4Floripes serviu-lhe o
jantar, deixou tudo arrumado, e retirou-se para dormir no barraco da filha.
2Mais do que nunca, sentiu
José Maria naquela noite a solidão da casa. Não tinha amigos, não tinha mulher
nem amante. E já lera todos os jornais. Havia o telefone, é verdade. Mas
ninguém chamava. Lembrava-se que certa vez, há uns quinze anos, aquela fria
coisa, pendurada e morta, se aquecera à voz de uma mulher desconhecida. A
máquina que apenas servia para recados ao armazém e informações do Ministério
transformara-se então em instrumento de música: adquirira alma, cantava quase.
De repente, sem motivo, a voz emudecera. E o aparelho voltou a ser na parede do
corredor a aranha de metal, 3sempre calada. O sussurro da vida, o
sangue de suas paixões passavam longe do telefone de Zé Maria...
Como vencer a noite que mal
começava?
(...)
O telefone toca. Quem será?
(...)
Era engano! Antes não o
fosse. A quem estaria destinada aquela voz carregada de ternura? Preferia que
dissesse desaforos, que o xingasse.
(...)
Atirou-se de bruços na
cama. E sonhou. Sonhou que conversava ao telefone e era a voz da mulher de há
quinze anos... Foi andando para o passado... Abriu-se-lhe uma cidade de
montanha, pontilhada de igrejas. E sempre para trás – tinha então dezesseis
anos –, ressurgiu-lhe a cidadezinha onde encontrara Duília. Aí parou. E Duília
lhe repetiu calmamente aquele gesto, o mais louco e gratuito, com que uma moça
pode iluminar para sempre a vida de um homem tímido.
Acordou com raiva de ter
acordado, fechou os olhos para dormir de novo e reatar o fio de sonho que
trouxe Duília. Mas a imagem esquiva lhe escapou, Duília desapareceu no tempo.
(...)
Toda vez que pensava nela,
o longo e inexpressivo interregno* do Ministério que chegava a confundir-se com
a duração definitiva de sua própria vida apagava-se-lhe de repente da memória.
O tempo contraía-se.
Duília!
Reviu-se na cidade natal
com apenas dezesseis anos de idade, a acompanhar a procissão que ela seguia
cantando. Foi nessa festa da Igreja, num fim de tarde, que tivera a grande
revelação.
Passou a praticar com mais
assiduidade a janela. Quanto mais o fazia, mais as colinas da outra margem lhe
recordavam a presença corporal da moça. Às vezes chegava a dormir com a
sensação de ter deixado a cabeça pousada no colo dela. As colinas se
transformavam em seios de Duília. Espantava-se da metamorfose, mas se comprazia
na evocação.
(...)
Era o afloramento súbito da
namorada (...).
ANÍBAL MACHADO
A morte da
porta-estandarte e Tati, a garota e outras histórias. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1976.
* Interregno: intervalo
11.
(Uerj 2012) No trecho que vai de Mais
do que nunca (ref. 2) até sempre calada (ref. 3), o narrador
empregou seis diferentes expressões para designar ou caracterizar o objeto
usado para recados à distância.
Distribua essas expressões em quatro grupos,
de acordo com as seguintes atitudes do narrador em relação a esse objeto:
- emprega uma metáfora visual,
- formula uma avaliação positiva,
- adota um ponto de vista neutro,
- exprime um julgamento
pejorativo.
Resposta:
Expressões como “aranha de
metal”, “instrumento de música”, “o telefone” ou “aparelho” e “aquela fria
coisa” ou “a máquina” configuram metáfora visual, avaliação positiva, ponto de
vista neutro e julgamento pejorativo, respectivamente.
12.
(Uerj 2012) TEXTO II
Ele está cansado, é quase
meia-noite, e pode afinal voltar para casa. (...). No edifício da esquina, o
mesmo cachorro de focinho enterrado na lata de lixo. Ao passar sob as árvores,
ao menor arrepio do vento, gotas borrifam-lhe o rosto, que ele não se incomoda
de enxugar.
Ao mexer no portão, o
cachorrinho late duas vezes – estou aqui, meu velho – e, por mais que saltite ao
seu lado, procurando alcançar-lhe a mão, ele não o agrada. (...)
Prevenido, desvia-se do
aquário sobre o piano: o peixinho dourado conhece os seus passos e de puro
exibicionismo entrega-se às mais loucas evoluções.
Ele respira fundo e,
cabisbaixo, entra no quarto. A mulher, sentada na cama, a folhear sempre uma
revista (é a mesma revista antiga), olha para ele, mas ele não a olha.
No banheiro, veste em
surdina o pijama e, ao lavar as mãos, recolhe da pia os longos cabelos alheios.
Escova de leve os dentes, sem evitar que sangrem as gengivas.
– Ai, como é triste a
velhice... – confessa para o espelho, e são palavras que não querem dizer nada.
Aperta as torneiras da pia,
do chuveiro e do bidê – se uma delas pingasse ele já não poderia dormir.
Na passagem, apanha o livro
sobre o guarda-roupa – ele a olhou de relance, mas ela não o olhou – e
dirige-se para a sala, onde acende a lâmpada ao lado da poltrona. Em seguida,
descalço, sobe na cadeira e com a chave dá corda ao relógio. Entra na cozinha
e, ao abrir a luz, pretende não ver a mesma barata na sua corrida tonta pelos
cantos. Deita um jarro d’água no filtro e bebe meio copo, que enxuga no pano e
põe de volta no armário.
Antes de sentar na
poltrona, detém-se diante do quarto da filha – a porta está aberta, mas ele não
entra. Esboça um aceno e presto encolhe a mão. Por mais que afine o ouvido não
escuta o bafejo da criança em sossego – e se ela deixou de respirar?
(...) Abre o livro e
concentra-se na leitura: frases sem nenhum sentido.
Na casa silenciosa, apenas
o voltear das folhas lá no quarto, às suas costas o peixinho estala o bico a
modo de um velho que rumina a dentadura. Por vezes, cansado demais, cabeceia e
o livro cai-lhe no joelho – enquanto não se apaga a luz do quarto ele não vai
deitar.
(...)
Está salvo desde que ignore
a porta do quarto da filha; ergue, com esforço, as pálpebras pesadas de sono e
lê mais algumas linhas, evitando levar a mão ao rosto, onde um músculo dispara
de repente a tremer no canto da boca. (...)
Ao extinguir-se enfim a
outra luz, ele deixa passar alguns minutos e, arrastando os pés no tapete,
recolhe-se ao quarto, acende a lâmpada do seu criado-mudo, com cautela infinita
para não encarar a esposa que, voltada para o seu lado, pode estar com um olho
aberto ou, quem sabe, até com um sorriso nos lábios. (...)
Será uma grande demora até
que na rua clarinem* as primeiras buzinas – os galos da cidade. (...)
Prepara-se para a noite em que há de entrar numa casa deserta e, ao abrir a
porta, assobiará duas notas, uma breve, outra longa: todos os quartos vazios, o
assobio é para a sua alma irmã, a baratinha no canto escuro.
(...)
Longe vai a manhã, mas
resta-lhe o consolo de que, ao saltar do leito, esquecerá entre os lençóis o
fantasma do seu terror noturno. Outra vez ergue-se no quarto o ressonar
tranquilo da esposa; cuidadoso de não ranger o colchão, ele volta-se para o
outro lado. Pouco importa se nunca mais chegar a dormir. Afinal você não pode
ter tudo.
DALTON TREVISAN
A guerra
conjugal.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.
* Clarinem - soem como clarim
Os protagonistas dos textos I e II
experimentam, em seu cotidiano, uma situação semelhante, mas a vivenciam de
modos diferentes.
Identifique essa situação e
descreva o modo pelo qual cada personagem a vivencia.
Resposta:
Ambos experimentam o
sentimento da solidão,
mas enquanto o personagem do texto I sofre e deseja libertar-se desse vazio,
alimentando o sonho de reencontrar a jovem que conheceu na juventude, o
personagem do texto II busca o isolamento, evitando todas as manifestações de
afeto.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Desencontrários
Mandei
a palavra rimar,
ela
não me obedeceu.
Falou
em mar, em céu, em rosa,
em
grego, em silêncio, em prosa.
Parecia
fora de si,
a
sílaba silenciosa.
Mandei
a frase sonhar,
e
ela se foi num labirinto.
Fazer
poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar
ordens a um exército,
para
conquistar um império extinto.
PAULO LEMINSKI
GÓES, F. e
MARINS, A. (orgs.)
Melhores poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2001.
13.
(Uerj 2011) Considere a formação da
palavra “Desencontrários”, título do poema de Paulo Leminski. Separe seus
elementos mórficos. Em seguida, nomeie o primeiro morfema que a compõe e
indique seu significado.
Resposta:
A palavra “ desencontrários” é formada por derivação,
processo através do qual de uma palavra se formam outras, por meio da agregação
de certos elementos que lhe alteram o sentido, mas sempre se referindo ao valor
semântico da palavra primitiva. Assim, há duas possibilidades para a formação
da palavra em questão, considerando o radical, prefixos e sufixos e desinências
flexionais: des+en+contr+ ário+s;des+en+contr+ari+o+s. “Des” é um prefixo que
indica negação.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Do bom uso do relativismo
Hoje, pela multimídia, imagens
e gentes do mundo inteiro nos entram pelos telhados, portas e janelas e
convivem conosco. É o efeito das redes globalizadas de comunicação. A primeira
reação é de perplexidade que pode provocar duas atitudes: ou de interesse para
melhor conhecer, que implica abertura e diálogo, ou de distanciamento, que
pressupõe fechar o espírito e excluir. De todas as formas, surge uma percepção
incontornável: nosso modo de ser não é o único. Há gente que, sem deixar de ser
gente, é diferente.
Quer dizer, nosso modo de
ser, de habitar o mundo, de pensar, de valorar e de comer não é absoluto. Há
mil outras formas diferentes de sermos humanos, desde a forma dos esquimós
siberianos, passando pelos yanomamis do Brasil, até chegarmos aos sofisticados
moradores de 1Alphavilles,
onde se resguardam as elites opulentas e amedrontadas. O mesmo vale para as
diferenças de cultura, de língua, de religião, de ética e de lazer.
Deste fato surge, de
imediato, o relativismo em dois sentidos: primeiro, importa relativizar todos
os modos de ser; nenhum deles é absoluto a ponto de invalidar os demais;
impõe-se também a atitude de respeito e de acolhida da diferença porque, pelo
simples fato de estar-aí, goza de direito de existir e de co-existir; segundo,
o relativo quer expressar o fato de que todos estão de alguma forma
relacionados. 3Eles não
podem ser pensados independentemente uns dos outros, porque todos são
portadores da mesma humanidade.
Devemos alargar a
compreensão do humano para além de nossa concretização. Somos uma
geo-sociedade una, múltipla e diferente.
Todas estas manifestações
humanas são portadoras de valor e de verdade. Mas são um valor e uma verdade
relativos, vale dizer, relacionados uns aos outros, autoimplicados, sendo que
nenhum deles, tomado em si, é absoluto.
Então não há verdade
absoluta? Vale o 2everything
goes de alguns pós-modernos? Quer dizer, o “vale tudo”? Não é o vale tudo.
Tudo vale na medida em que mantém relação com os outros, respeitando-os em sua
diferença. Cada um é portador de verdade mas ninguém pode ter o monopólio dela.
Todos, de alguma forma, participam da verdade. Mas podem crescer para uma
verdade mais plena, na medida em que mais e mais se abrem uns aos outros.
Bem dizia o poeta espanhol
António Machado: “Não a tua verdade. A verdade. Vem comigo buscá-la. A tua,
guarde-a”. Se a buscarmos juntos, no diálogo e na cordialidade, então mais e
mais desaparece a minha verdade para dar lugar à Verdade comungada por todos.
A ilusão do Ocidente é de
imaginar que a única janela que dá acesso à verdade, à religião verdadeira, à
autêntica cultura e ao saber crítico é o seu modo de ver e de viver. As demais
janelas apenas mostram paisagens distorcidas. Ele se condena a um
fundamentalismo visceral que o fez, outrora, organizar massacres ao impor a sua
religião e, hoje, guerras para forçar a democracia no Iraque e no Afeganistão.
Devemos fazer o bom uso do
relativismo, inspirados na culinária. Há uma só culinária, a que prepara os
alimentos humanos. Mas ela se concretiza em muitas formas, as várias cozinhas:
a mineira, a nordestina, a japonesa, a chinesa, a mexicana e outras. Ninguém
pode dizer que só uma é a verdadeira e gostosa e as outras não. Todas são
gostosas do seu jeito e todas mostram a extraordinária versatilidade da arte
culinária.
Por que com a verdade deveria
ser diferente?
LEONARDO BOFF
Vocabulário:
ref. 1: Alphavilles: condomínios de luxo
ref. 2: everything goes:
literalmente, “todas as coisas vão”; equivale à expressão “vale tudo”
14.
(Uerj 2009) O título do texto de
Leonardo Boff fala do bom uso do relativismo. Pode-se inferir, então, que
haveria um relativismo negativo, que o autor condenaria.
Transcreva o trecho em que o autor alude ao
tipo de relativismo que ele rejeita. Em seguida, justifique por que, para o
autor, esse uso do relativismo seria condenável.
Resposta:
Uma das possibilidades:
• Então não há verdade absoluta?
• Vale o everything goes de alguns
pós-modernos?
• Quer dizer, o “vale tudo”? Não é o
vale tudo.
Segundo o autor, há uma regra básica que se
contrapõe ao vale tudo: é preciso manter relações com os outros e
respeitá-los em sua diferença.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO III
Infância
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
1No meio-dia branco de luz
uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala – e nunca se
esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
– Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!
2Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
CARLOS DRUMMOND
DE ANDRADE
Poesia
completa. Rio
de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.
15.
(Uerj 2009) No meio-dia branco de luz
uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala – e
nunca se esqueceu (ref. 1)
Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda. (ref. 2)
Classifique gramaticalmente as palavras
sublinhadas e aponte a diferença de sentido entre elas.
Resposta:
Longes: substantivo comum.
Longe: advérbio de lugar.
Longes: tempos distantes.
Longe: espacialmente distante, longínquo,
afastado.
Link para questões de outras disciplinas:
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