sábado, 6 de julho de 2013

Medicina UERJ - questões específicas com resolução e comentários - Química, Biologia e língua portuguesa






1. (Uerj 2013)  A irisina, um hormônio recentemente descoberto, é produzida por células musculares durante a atividade física. Ela atua sobre as mitocôndrias de certos tipos de células adiposas, acelerando a oxidação dos lipídios e liberando energia sob a forma de calor.
Identifique a alteração provocada pela ação da irisina sobre o metabolismo energético das mitocôndrias dessas células adiposas.
Nomeie um outro hormônio conhecido cuja atuação seja semelhante à da irisina nas células do organismo.  


Resposta:

Desacoplamento da fosforilação oxidativa.

Hormônios tireoidianos.

 2. (Uerj 2013)  Em células eucariotas, o antibiótico actinomicina D atua bloqueando o mecanismo de transcrição da informação gênica, impedindo a síntese de RNA. Já o antibiótico puromicina é capaz de bloquear o processo de tradução da informação e, portanto, a síntese de proteínas.
Considere um experimento em que a actinomicina D foi adicionada a uma cultura de células eucariotas, medindo-se, em função do tempo de cultivo, a concentração de três diferentes proteínas, A, B e C, no citosol dessas células. Em experimento similar, esse antibiótico foi substituído pela puromicina, sendo medidas as concentrações das mesmas proteínas.
A tabela abaixo mostra os resultados dos dois experimentos.





Considere que a meia-vida de uma molécula na célula é igual ao tempo necessário para que a concentração dessa molécula se reduza à metade.
Estabeleça a ordem decrescente dos tempos de meia-vida dos RNA mensageiros das proteínas A, B e C.
Compare, também, o tempo de meia-vida dessas proteínas e estabeleça a relação entre esses tempos.  


Resposta:

C – B – A.
As meias-vidas são iguais. 







4. (Uerj 2013)  Segundo a perspectiva de alguns cientistas, as mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global podem estar provocando mudanças nos processos adaptativos de seres vivos.
Justifique essa perspectiva com base nas seguintes propostas:
— teoria evolutiva de Lamarck;
— neodarwinismo.  


Resposta:

Lamarck — Os seres vivos estariam se adaptando segundo a lei do uso e desuso, segundo a qual o que não é usado desaparece e o que é usado se desenvolve e é transmitido às gerações futuras.
Neodarwinismo — Mutações ao acaso ocorridas nos genes dos seres vivos, permitindo melhor adaptação às mudanças ambientais, seriam naturalmente selecionadas e transmitidas aos descendentes.



  
5. (Uerj 2013)  A toxina produzida pela bactéria anaeróbica Clostridium botulinum pode produzir a doença denominada botulismo, por impedir a liberação do mediador químico acetilcolina nas sinapses nervosas colinérgicas. Sob o nome comercial de Botox, é usada para minimizar, temporariamente, a formação de rugas faciais.
Explique por que o uso de pequenas doses injetáveis dessa toxina propicia essa minimização de rugas.
Explique, ainda, por que latas estufadas podem indicar a contaminação do alimento nelas contido por Clostridium botulinum.


Resposta:

A ausência de acetilcolina bloqueia, temporariamente, a transmissão neuromuscular do impulso nervoso nos músculos da face, relaxando-os.
Nas condições de baixa concentração de oxigênio encontradas no interior das latas, a bactéria produz CO2 por fermentação.



  
6. (Uerj 2012)  Recentemente, no Rio de Janeiro, recrutas da Marinha foram contaminados por vírus influenza tipo B. Esse vírus se replica de modo idêntico ao do vírus influenza tipo A, causador da pandemia de gripe suína no ano de 2009.
Cite o tipo de ácido nucleico existente no vírus influenza tipo B e explicite seu mecanismo de replicação.


Resposta:

RNA formado por hélice simples.
O RNA viral é transcrito em seu RNA complementar, utilizado pela célula como RNA mensageiro.



  
7. (Uerj 2012)  O monóxido de carbono é um gás que, ao se ligar à enzima citocromo C oxidase, inibe a etapa final da cadeia mitocondrial de transporte de elétrons.
Considere uma preparação de células musculares à qual se adicionou monóxido de carbono. Para medir a capacidade de oxidação mitocondrial, avaliou-se, antes e depois da adição do gás, o consumo de ácido cítrico pelo ciclo de Krebs.
Indique o que ocorre com o consumo de ácido cítrico pelo ciclo de Krebs nas mitocôndrias dessas células após a adição do monóxido de carbono. Justifique sua resposta.


Resposta:

O consumo diminui.
Ao cessar o transporte de elétrons pela cadeia respiratória mitocondrial, a acumulação das coenzimas de oxirredução na forma reduzida inibe a atividade das enzimas desidrogenases.



  
8. (Uerj 2011)  O Brasil é o segundo país do mundo em número de casos de hanseníase, perdendo apenas para a Índia. Cite o nome científico do agente patogênico responsável pela hanseníase, indicando se é um vírus ou uma bactéria. Em seguida, identifique seu mecanismo de transmissão e apresente o nome da vacina que pode induzir alguma proteção contra essa doença.


Resposta:

Mycobacterium leprae; bactéria.
Contato com secreções das vias aéreas de doentes não tratados. Vacina BCG.
A vacina BCG (Bacilo Calmette – Guérin) protege contra bactérias do gênero Mycobacterium, como o bacilo causador da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis)



  
9. (Uerj 2011)  A amônia é produzida pelos organismos vivos, especialmente durante o catabolismo dos aminoácidos. Por ser muito tóxica, alguns vertebrados a incorporam, antes da excreção, como ácido úrico ou como ureia.
Cite um vertebrado que excreta diretamente amônia e identifique o principal órgão excretor dessa substância. Aponte, também, uma vantagem de adaptação ambiental relativa às aves e outra relativa aos répteis, por excretarem ácido úrico, substância pouco solúvel em água.


Resposta:

A amônia é um composto nitrogenado muito solúvel e muito tóxico. Por esse motivo ela deve ser eliminada assim que for produzida. Animais que excretam diretamente a amônia vivem normalmente na água. Assim podem-se citar os peixes teleósteos e os girinos de anfíbios, os quais excretam amônia principalmente pelas brânquias. Em aves, a ausência de bexiga urinária e a excreção de ácido úrico com as fezes diminui o peso específico do animal e facilita o voo. Em répteis, a excreção fecal de ácido úrico resulta em economia de água e adapta melhor esses animais às regiões áridas.




TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
TEXTO I

1Durante mais de trinta anos, o bondezinho das dez e quinze, que descia do Silvestre, parava como burro ensinado em frente à casinha de José Maria, e ali encontrava, almoçado e pontual, o velho funcionário.
Um dia, porém, José Maria faltou. O motorneiro batia a sirene. Os passageiros se impacientavam. Floripes correu aflita a avisar o patrão. Achou-o de pijama, estirado na poltrona, querendo rir.
– Seu José Maria, o senhor hoje perdeu a hora! Há muito tempo o motorneiro está a dar sinal.
– Diga-lhe que não preciso mais.
A velha portuguesa não compreendeu.
– Vá, diga que não vou... Que de hoje em diante não irei mais.
A criada chegou à janela, gritou o recado. E o bondezinho desceu sem o seu mais antigo passageiro.
Floripes voltou ao patrão. Interroga-o com o olhar.
– Não sabes que estou aposentado?
(...)
Interrompera da noite para o dia o hábito de esperar o bondezinho, comprar o jornal da manhã, bebericar o café na Avenida, e instalar-se à mesa do Ministério, sisudo e calado, até às dezessete horas.
Que fazer agora?
Não mais informar processos, não mais preocupar-se com o nome e a cara do futuro Ministro.
Pela primeira vez fartava a vista no cenário de águas e montanhas que a bruma fundia.
(...)
4Floripes serviu-lhe o jantar, deixou tudo arrumado, e retirou-se para dormir no barraco da filha.
2Mais do que nunca, sentiu José Maria naquela noite a solidão da casa. Não tinha amigos, não tinha mulher nem amante. E já lera todos os jornais. Havia o telefone, é verdade. Mas ninguém chamava. Lembrava-se que certa vez, há uns quinze anos, aquela fria coisa, pendurada e morta, se aquecera à voz de uma mulher desconhecida. A máquina que apenas servia para recados ao armazém e informações do Ministério transformara-se então em instrumento de música: adquirira alma, cantava quase. De repente, sem motivo, a voz emudecera. E o aparelho voltou a ser na parede do corredor a aranha de metal, 3sempre calada. O sussurro da vida, o sangue de suas paixões passavam longe do telefone de Zé Maria...
Como vencer a noite que mal começava?
(...)
O telefone toca. Quem será? (...)
Era engano! Antes não o fosse. A quem estaria destinada aquela voz carregada de ternura? Preferia que dissesse desaforos, que o xingasse.
(...)
Atirou-se de bruços na cama. E sonhou. Sonhou que conversava ao telefone e era a voz da mulher de há quinze anos... Foi andando para o passado... Abriu-se-lhe uma cidade de montanha, pontilhada de igrejas. E sempre para trás – tinha então dezesseis anos –, ressurgiu-lhe a cidadezinha onde encontrara Duília. Aí parou. E Duília lhe repetiu calmamente aquele gesto, o mais louco e gratuito, com que uma moça pode iluminar para sempre a vida de um homem tímido.
Acordou com raiva de ter acordado, fechou os olhos para dormir de novo e reatar o fio de sonho que trouxe Duília. Mas a imagem esquiva lhe escapou, Duília desapareceu no tempo.
(...)
Toda vez que pensava nela, o longo e inexpressivo interregno* do Ministério que chegava a confundir-se com a duração definitiva de sua própria vida apagava-se-lhe de repente da memória. O tempo contraía-se.
Duília!
Reviu-se na cidade natal com apenas dezesseis anos de idade, a acompanhar a procissão que ela seguia cantando. Foi nessa festa da Igreja, num fim de tarde, que tivera a grande revelação.
Passou a praticar com mais assiduidade a janela. Quanto mais o fazia, mais as colinas da outra margem lhe recordavam a presença corporal da moça. Às vezes chegava a dormir com a sensação de ter deixado a cabeça pousada no colo dela. As colinas se transformavam em seios de Duília. Espantava-se da metamorfose, mas se comprazia na evocação.
(...)
Era o afloramento súbito da namorada (...).

ANÍBAL MACHADO
A morte da porta-estandarte e Tati, a garota e outras histórias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.

* Interregno: intervalo


11. (Uerj 2012)  No trecho que vai de Mais do que nunca (ref. 2) até sempre calada (ref. 3), o narrador empregou seis diferentes expressões para designar ou caracterizar o objeto usado para recados à distância.
Distribua essas expressões em quatro grupos, de acordo com as seguintes atitudes do narrador em relação a esse objeto:
- emprega uma metáfora visual,
- formula uma avaliação positiva,
- adota um ponto de vista neutro,
- exprime um julgamento pejorativo.


Resposta:

Expressões como “aranha de metal”, “instrumento de música”, “o telefone” ou “aparelho” e “aquela fria coisa” ou “a máquina” configuram metáfora visual, avaliação positiva, ponto de vista neutro e julgamento pejorativo, respectivamente.



  
12. (Uerj 2012)  TEXTO II

Ele está cansado, é quase meia-noite, e pode afinal voltar para casa. (...). No edifício da esquina, o mesmo cachorro de focinho enterrado na lata de lixo. Ao passar sob as árvores, ao menor arrepio do vento, gotas borrifam-lhe o rosto, que ele não se incomoda de enxugar.
Ao mexer no portão, o cachorrinho late duas vezes – estou aqui, meu velho – e, por mais que saltite ao seu lado, procurando alcançar-lhe a mão, ele não o agrada. (...)
Prevenido, desvia-se do aquário sobre o piano: o peixinho dourado conhece os seus passos e de puro exibicionismo entrega-se às mais loucas evoluções.
Ele respira fundo e, cabisbaixo, entra no quarto. A mulher, sentada na cama, a folhear sempre uma revista (é a mesma revista antiga), olha para ele, mas ele não a olha.
No banheiro, veste em surdina o pijama e, ao lavar as mãos, recolhe da pia os longos cabelos alheios. Escova de leve os dentes, sem evitar que sangrem as gengivas.
– Ai, como é triste a velhice... – confessa para o espelho, e são palavras que não querem dizer nada.
Aperta as torneiras da pia, do chuveiro e do bidê – se uma delas pingasse ele já não poderia dormir.
Na passagem, apanha o livro sobre o guarda-roupa – ele a olhou de relance, mas ela não o olhou – e dirige-se para a sala, onde acende a lâmpada ao lado da poltrona. Em seguida, descalço, sobe na cadeira e com a chave dá corda ao relógio. Entra na cozinha e, ao abrir a luz, pretende não ver a mesma barata na sua corrida tonta pelos cantos. Deita um jarro d’água no filtro e bebe meio copo, que enxuga no pano e põe de volta no armário.
Antes de sentar na poltrona, detém-se diante do quarto da filha – a porta está aberta, mas ele não entra. Esboça um aceno e presto encolhe a mão. Por mais que afine o ouvido não escuta o bafejo da criança em sossego – e se ela deixou de respirar?
(...) Abre o livro e concentra-se na leitura: frases sem nenhum sentido.
Na casa silenciosa, apenas o voltear das folhas lá no quarto, às suas costas o peixinho estala o bico a modo de um velho que rumina a dentadura. Por vezes, cansado demais, cabeceia e o livro cai-lhe no joelho – enquanto não se apaga a luz do quarto ele não vai deitar.
(...)
Está salvo desde que ignore a porta do quarto da filha; ergue, com esforço, as pálpebras pesadas de sono e lê mais algumas linhas, evitando levar a mão ao rosto, onde um músculo dispara de repente a tremer no canto da boca. (...)
Ao extinguir-se enfim a outra luz, ele deixa passar alguns minutos e, arrastando os pés no tapete, recolhe-se ao quarto, acende a lâmpada do seu criado-mudo, com cautela infinita para não encarar a esposa que, voltada para o seu lado, pode estar com um olho aberto ou, quem sabe, até com um sorriso nos lábios. (...)
Será uma grande demora até que na rua clarinem* as primeiras buzinas – os galos da cidade. (...) Prepara-se para a noite em que há de entrar numa casa deserta e, ao abrir a porta, assobiará duas notas, uma breve, outra longa: todos os quartos vazios, o assobio é para a sua alma irmã, a baratinha no canto escuro.
(...)
Longe vai a manhã, mas resta-lhe o consolo de que, ao saltar do leito, esquecerá entre os lençóis o fantasma do seu terror noturno. Outra vez ergue-se no quarto o ressonar tranquilo da esposa; cuidadoso de não ranger o colchão, ele volta-se para o outro lado. Pouco importa se nunca mais chegar a dormir. Afinal você não pode ter tudo.

DALTON TREVISAN
A guerra conjugal. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.

* Clarinem - soem como clarim

Os protagonistas dos textos I e II experimentam, em seu cotidiano, uma situação semelhante, mas a vivenciam de modos diferentes.
Identifique essa situação e descreva o modo pelo qual cada personagem a vivencia.


Resposta:

Ambos experimentam o sentimento da solidão, mas enquanto o personagem do texto I sofre e deseja libertar-se desse vazio, alimentando o sonho de reencontrar a jovem que conheceu na juventude, o personagem do texto II busca o isolamento, evitando todas as manifestações de afeto.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Desencontrários

            Mandei a palavra rimar,
            ela não me obedeceu.
            Falou em mar, em céu, em rosa,
            em grego, em silêncio, em prosa.
            Parecia fora de si,
            a sílaba silenciosa.

            Mandei a frase sonhar,
            e ela se foi num labirinto.
            Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
            Dar ordens a um exército,
            para conquistar um império extinto.

PAULO LEMINSKI
GÓES, F. e MARINS, A. (orgs.)
Melhores poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2001.


13. (Uerj 2011)  Considere a formação da palavra “Desencontrários”, título do poema de Paulo Leminski. Separe seus elementos mórficos. Em seguida, nomeie o primeiro morfema que a compõe e indique seu significado.


Resposta:

A palavra “ desencontrários” é formada por derivação, processo através do qual de uma palavra se formam outras, por meio da agregação de certos elementos que lhe alteram o sentido, mas sempre se referindo ao valor semântico da palavra primitiva. Assim, há duas possibilidades para a formação da palavra em questão, considerando o radical, prefixos e sufixos e desinências flexionais: des+en+contr+ ário+s;des+en+contr+ari+o+s. “Des” é um prefixo que indica negação.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Do bom uso do relativismo

Hoje, pela multimídia, imagens e gentes do mundo inteiro nos entram pelos telhados, portas e janelas e convivem conosco. É o efeito das redes globalizadas de comunicação. A primeira reação é de perplexidade que pode provocar duas atitudes: ou de interesse para melhor conhecer, que implica abertura e diálogo, ou de distanciamento, que pressupõe fechar o espírito e excluir. De todas as formas, surge uma percepção incontornável: nosso modo de ser não é o único. Há gente que, sem deixar de ser gente, é diferente.
Quer dizer, nosso modo de ser, de habitar o mundo, de pensar, de valorar e de comer não é absoluto. Há mil outras formas diferentes de sermos humanos, desde a forma dos esquimós siberianos, passando pelos yanomamis do Brasil, até chegarmos aos sofisticados moradores de 1Alphavilles, onde se resguardam as elites opulentas e amedrontadas. O mesmo vale para as diferenças de cultura, de língua, de religião, de ética e de lazer.
Deste fato surge, de imediato, o relativismo em dois sentidos: primeiro, importa relativizar todos os modos de ser; nenhum deles é absoluto a ponto de invalidar os demais; impõe-se também a atitude de respeito e de acolhida da diferença porque, pelo simples fato de estar-aí, goza de direito de existir e de co-existir; segundo, o relativo quer expressar o fato de que todos estão de alguma forma relacionados. 3Eles não podem ser pensados independentemente uns dos outros, porque todos são portadores da mesma humanidade.
Devemos alargar a compreensão do humano para além de nossa concretização. Somos uma geo-sociedade una, múltipla e diferente.
Todas estas manifestações humanas são portadoras de valor e de verdade. Mas são um valor e uma verdade relativos, vale dizer, relacionados uns aos outros, autoimplicados, sendo que nenhum deles, tomado em si, é absoluto.
Então não há verdade absoluta? Vale o 2everything goes de alguns pós-modernos? Quer dizer, o “vale tudo”? Não é o vale tudo. Tudo vale na medida em que mantém relação com os outros, respeitando-os em sua diferença. Cada um é portador de verdade mas ninguém pode ter o monopólio dela. Todos, de alguma forma, participam da verdade. Mas podem crescer para uma verdade mais plena, na medida em que mais e mais se abrem uns aos outros.
Bem dizia o poeta espanhol António Machado: “Não a tua verdade. A verdade. Vem comigo buscá-la. A tua, guarde-a”. Se a buscarmos juntos, no diálogo e na cordialidade, então mais e mais desaparece a minha verdade para dar lugar à Verdade comungada por todos.
A ilusão do Ocidente é de imaginar que a única janela que dá acesso à verdade, à religião verdadeira, à autêntica cultura e ao saber crítico é o seu modo de ver e de viver. As demais janelas apenas mostram paisagens distorcidas. Ele se condena a um fundamentalismo visceral que o fez, outrora, organizar massacres ao impor a sua religião e, hoje, guerras para forçar a democracia no Iraque e no Afeganistão.
Devemos fazer o bom uso do relativismo, inspirados na culinária. Há uma só culinária, a que prepara os alimentos humanos. Mas ela se concretiza em muitas formas, as várias cozinhas: a mineira, a nordestina, a japonesa, a chinesa, a mexicana e outras. Ninguém pode dizer que só uma é a verdadeira e gostosa e as outras não. Todas são gostosas do seu jeito e todas mostram a extraordinária versatilidade da arte culinária.
Por que com a verdade deveria ser diferente?
LEONARDO BOFF

Vocabulário:
ref. 1: Alphavilles: condomínios de luxo
ref. 2: everything goes: literalmente, “todas as coisas vão”; equivale à expressão “vale tudo”


14. (Uerj 2009)  O título do texto de Leonardo Boff fala do bom uso do relativismo. Pode-se inferir, então, que haveria um relativismo negativo, que o autor condenaria.
Transcreva o trecho em que o autor alude ao tipo de relativismo que ele rejeita. Em seguida, justifique por que, para o autor, esse uso do relativismo seria condenável.


Resposta:

Uma das possibilidades:
Então não há verdade absoluta?
Vale o everything goes de alguns pós-modernos?
Quer dizer, o “vale tudo”? Não é o vale tudo.
Segundo o autor, há uma regra básica que se contrapõe ao vale tudo: é preciso manter relações com os outros e respeitá-los em sua diferença.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO III

Infância

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

1No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
– Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

2Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.


15. (Uerj 2009)  No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu (ref. 1)
longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda. (ref. 2)

Classifique gramaticalmente as palavras sublinhadas e aponte a diferença de sentido entre elas.


Resposta:

Longes: substantivo comum.
Longe: advérbio de lugar.
Longes: tempos distantes.
Longe: espacialmente distante, longínquo, afastado.



















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